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21/09/2020Campanhas de conscientização, atenção a desvios de comportamentos e atividades sócio-esportivas estão entre as medidas de prevenção ao suicídio em condomínios
Os condomínios têm muito a contribuir com a campanha Setembro Amarelo de prevenção do suicídio. E devem.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de suicídio no Brasil é de 6 para cada 100 mil pessoas. Da população de 211 milhões, são cerca de 13 mil pessoas, das quais 1.545 moram em apartamentos.
“As 13 mil mortes por suicídio ao ano é um número muito alto e pode ser evitado. Em 2020, a Associação Brasileira de Psiquiatria tem alertado para a importância da ação efetiva. Além da busca por informações corretas, é importante saber a partir de que momento precisamos agir e não somente conversar ou falar sobre o assunto”, destaca o médico psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente da ABP.
O número de pessoas que moram em apartamentos se torna mais significativo para o tema suicídio quando falamos de grandes centros, muito mais verticalizados, tornando o papel dos condomínios na prevenção ao suicídio ainda mais importante.
Dos 7,6 milhões de domicílios da Região Metropolitana de São Paulo, cerca de 27% são apartamentos, ou 2 milhões de unidades, habitadas por mais de 5 milhões de pessoas, segundo estudo Pnad de 2019 (IBGE).
“As pessoas com tendências dão sinais. A “rádio peão” chega até o síndico e os funcionários, que devem estar atentos a esses sinais e informações. A gestão de um condomínio, seja por parte da administradora, do síndico ou dos condôminos, tem que ser uma gestão de acolhimento também. Não é só para discutir o valor do condomínio”, ressalta Marcelo Mahtuk, diretor da Manager.
Diversas ações preventivas podem ser coordenadas por gestores nos condomínios, desde campanhas de conscientização, treinamento de funcionários para estarem atentos a desvios de comportamentos até a realização de eventos sociais e atividades esportivas.
As duas últimas – suspensas ou bem reduzidas devido à pandemia – estimulam interação, amizade, autoconfiança e até mesmo benefícios físicos, como aumento da imunidade e liberação de hormônios que auxiliam no combate e prevenção de algumas doenças mentais.
Trazida para o Brasil em 2014 pela ABP e o Conselho Federal de Medicina (CFM), a campanha Setembro Amarelo se tornou mais relevante em 2020 com a pandemia de coronavírus.
O isolamento social como medida preventiva à infecção da doença, traz a rebote o aumento de doenças mentais, surtos e tentativas de suicídio.
Dos mais de 2 mil participantes da pesquisa SíndicoNet sobre impactos da pandemia em condomínios, 17,63% dos síndicos afirmaram ter registrado casos relacionados à saúde mental ou problema comportamental dos moradores, sendo 6,83% dos casos suicídios ou tentativas.
A pandemia também traz outra consequência agravante: a crise econômica. Estudos apontam que para cada 1% no aumento do desemprego, há um crescimento de 1,6% na taxa de suicídios de um país. No segundo trimestre (auge da pandemia), foram fechados 8,9 milhões de postos de trabalho (IBGE), elevando a taxa de desemprego no Brasil para 13,3%, com 12,8 milhões de desempregados.
O síndico profissional Fúlvio Stagi recebeu a notícia do primeiro caso de suicídio em um condomínio que atende no começo de setembro. “Fui pessoalmente dar apoio aos funcionários, estar disponível para alguma questão burocrática e prestar solidariedade à família, que informou que a pessoa tinha depressão.”
Além deste caso, Stagi relata que, em seis anos de atuação no segmento condominial, soube de apenas uma tentativa de suicídio.
6 ações preventivas ao suicídio em condomínios
Há uma série de ações que podem ser adotadas nos condomínios que colaboram diretamente na prevenção do suicídio. Confira.
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CAMPANHAS DE CONSCIENTIZAÇÃO
Os condomínios podem afixar cartazes, distribuir comunicados de conscientização e incluir menções de valorização à vida em notas de boletins periódicos, no site ou displays informativos nos elevadores.
O condomínio também pode divulgar os trabalhos de prevenção e atendimento, como:
Centro de Valorização da Vida (CVV), que conta com voluntários treinados para conversar de forma sigilosa com quem esteja passando por alguma dificuldade. Para conversar com um voluntário:
- Ligue para 188 (atendimento 24h gratuito, inclusive celular)
- Mande um e-mail
- Fale pelo chat
- UPA, CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e ambulatório de psiquiatria locais
- Materiais da campanha Setembro Amarelo, com cartilhas, cartazes, banners para redes sociais.
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ATIVIDADES ESPORTIVAS
Em seus 17 anos trabalhando no segmento condominial, a síndica profissional e advogada Taula Armentano já vivenciou quatro tentativas de suicídios de adultos e três suicídios de adolescentes. Dados da OMS apontam que esta é a segunda maior causa de morte entre adolescentes e jovens de 15 a 24 anos, ficando atrás apenas de acidentes no trânsito.
Especializada em condomínios-clube, onde há muitas famílias com adolescentes, Taula procura implantar atividades esportivas.
“Sempre promovemos torneios e outras ações que possam atrair em especial esse público. A ideia é realizar eventos bacanas, que desafiem e motivem os adolescentes a participar dos esportes para ter engajamento da comunidade. A prática esportiva ajuda tanto no combate às drogas quanto na prevenção ao suicídio”, explica a síndica profissional.
Um termômetro para Taula são os professores das assessorias esportivas e os colegas. “Muitos desabafam com os professores, que também detectam que algo não está bem pelo comportamento dos alunos. Os amigos também percebem quando alguém está mal. A pessoa dá sinais para amigos, professores e até para pessoas da administração”, relata.
Ao saber de uma situação crítica, é possível ao gestor tomar medidas preventivas. “Já tive muitas conversas com pais de adolescentes problemáticos. É uma conversa difícil, no âmbito individual. Há pais que pedem ajuda, já outros se ofendem”, conta Marcelo Mahtuk, da administradora Manager, que pessoalmente se envolve.
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EVENTOS SOCIAIS E PALESTRAS
A promoção de eventos sociais nos condomínios, como Festa Junina e Dia das Crianças, são um incentivo para que as pessoas saiam de suas unidades e convivam com os vizinhos.
“Fazemos dinâmicas familiares no Dia das Crianças e, nessa linha, é possível detectar se há problemas com os quais possamos colaborar”, explica Taula. Uma outra medida é levar grupos de apoio para falar com os pais.
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PLANO DE CONTINGÊNCIA E TREINAMENTO DA EQUIPE
Algo que todo condomínio pode fazer é elaborar um Plano de Contingência e treinar toda a equipe – de porteiros, gestores prediais e seguranças até pessoal da administração -, preparando-a para medidas preventivas ou de socorro.
Taula Armentano inclui esse preparo no treinamento de primeiros socorros: como tratar e gerenciar tentativas de suicídio (veja mais em “Fato consumado”).
Ela conta que durante a pandemia houve duas tentativas de suicídio que foram contornadas graças à intervenção da equipe bem preparada.
Uma foi cárcere privado (violência doméstica), e a vítima conseguiu pedir ajuda para a portaria. O outro caso foi de uma pessoa que tomou remédios e a mãe pediu auxílio para a administração, dando tempo de socorrer.
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FOMENTAR A CULTURA DA SOLIDARIEDADE
Conhecer os perfis dos moradores do condomínio é algo que todo síndico pode fazer, estimulando-os a se envolver e colaborar nas áreas afins. Advogados podem auxiliar em questões legais e contratuais, engenheiros na manutenção ou benfeitoria/obras etc.
Há também os vizinhos de perfil mais relacional, social, que muitas vezes já tomam a iniciativa de fazer campanhas de caridade, sustentabilidade, reciclagem. Essas pessoas podem se aproximar dos mais solitários.
“O síndico é um catalisador no empreendimento. Ele pode identificar esses públicos e tirar proveito como gestor. Como líder, ele reconhece o talento de cada um”, diz Marcelo Mahtuk.
O síndico deve fomentar e incentivar a cultura da solidariedade no condomínio. E os grandes aliados nessa missão são os vizinhos com perfil relacional/social.
“Em condomínios, tem que quebrar o gelo com as pessoas, dar um ‘bom dia’, puxar uma conversa amistosa no elevador, no hall social. Os moradores mais relacionais quebram a rigidez e a frieza e isso contagia positivamente a comunidade”, descreve o diretor da Manager.
Bazar de natal, o vôlei de quinta à noite, campanhas beneficentes (agasalho, brinquedo, alimentos) em prol de algum colégio, creche ou asilo público do bairro, doação de sangue para algum condômino doente estão entre as inúmeras iniciativas que uma comunidade solidária pode promover.
“Se o síndico não tiver esse perfil, ele pode identificar alguém para liderar essa frente. Isso faz com que o condomínio fique mais humanizado. Quando se cria essa cultura no condomínio, as pessoas novas se adaptam a ela . Tem até quem queira morar neste tipo de condomínio devido ao seu lado solidário. Há rotatividade de moradores sim, mas quando se tem uma cultura, é difícil tirar”, opina Marcelo Mahtuk.
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CONTATO MAIS PRÓXIMO COM A COMUNIDADE
Fúlvio Stagi começou a promover happy hours virtuais com moradores, para ouvi-los e amenizar questões conflituosas. Tem feito também plantões presenciais nos condomínios e algumas pessoas vão até o local para conversar.
“Falta um contato mais humano. Muitas pessoas não conhecem seus vizinhos, há muito individualismo. O simples fato de ter alguém para te ouvir já ajuda muito. Aprendi e comecei a aplicar isso depois que comecei a fazer terapia.”
Taula Armentano conta que durante a pandemia fez uma pesquisa entre os moradores dos condomínios em que atua para identificar quem se disponibilizava a ajudar e quem precisava de ajuda durante a quarentena.
Dentre as várias frentes de necessidade, uma delas era “preciso conversar”, preenchida por várias pessoas, que ela encaixou na agenda dos voluntários dispostos a conversar, inclusive psicólogos.
Como a administradora pode ajudar na prevenção e numa ocorrência
A administradora do condomínio pode ajudar os condomínios de algumas formas:
- Auxiliar o síndico na elaboração do seu plano de contingência
- Treinar e reciclar a equipe para situações de emergência
- Elaborar calendário de campanha de conscientização e fazer os disparos por e-mail
- Ter cuidado especial em manter atualizado o cadastro dos moradores: além de dados pessoais, incluir plano de saúde e abrir espaço para inclusão de até três contatos de emergência.
Marcelo Mahtuk conta que já foi o portador da má notícia para a família e os contatos de emergência atualizados foram cruciais. “Verifiquei com critério qual era a primeira pessoa menos envolvida emocionalmente para ajudar a fazer o comunicado para familiares mais próximos”, conta.
Vizinhos e funcionários: atenção aos sinais
De acordo com Antônio Geraldo da Silva, presidente da ABP, quando se fala em proteção à vida, é muito importante considerar toda e qualquer tentativa ou verbalização do suicídio. Desta forma, todo e qualquer auxílio é muito bem-vindo, inclusive de vizinhos e funcionários.
“Precisamos fazer o que estiver ao nosso alcance para orientar e encaminhar para o atendimento médico, mas muitas vezes a própria pessoa pode não estar receptiva à ajuda – é aí que entra o papel da família”, explica o psiquiatra.
Ele fala da importância de se estar atento aos fatores de riscos, que são:
- doença mental
- agressividade
- impulsividade
- isolamento social
- baixa autoestima
- uma tentativa prévia de suicídio
- indícios que o indivíduo dá de que algo não está bem
“É importante estar atento aos fatores de risco, conhecê-los e saber como lidar com eles. No caso do comportamento suicida, levar em consideração toda e qualquer manifestação no sentido de desesperança ou desamparo”, esclarece.
Ele orienta que ao se notar um desses sinais, é fundamental buscar auxílio médico, se oferecer para ir junto na consulta médica, perguntar se a pessoa gostaria de companhia. No caso de funcionários, estes podem reportar ao síndico, que tomará as providências mais adequadas.
“O psiquiatra poderá avaliar o quadro e identificar o desenvolvimento de uma doença mental, intervindo de forma precoce e evitando seu agravamento. Com o tratamento correto, a ideação suicida desaparece por completo e o paciente retoma a qualidade de vida”, diz Antônio Geraldo da Silva, presidente da ABP.
O que um condomínio deve fazer quando há tentativa ou suicídio
Síndico, equipe de funcionários e até mesmo moradores podem ser preparados para lidar com uma tentativa ou suicídio.
MEDIDAS IMEDIATAS
- Ligar para 192 (SAMU)
- Ligar para 193 (Corpo de Bombeiros)
- Ligar para 190 (Polícia Militar)
- Ligar para 197 (Polícia Civil)
- Invadir a unidade com autorização de algum familiar
- Prestar auxílio imediato e/ou permanecer no local até a chegada do órgão que dará andamento à ocorrência
- Travar elevador para atendimento imediato e programar para subir direto para o andar quando chegar socorro
- Isolar o local (seja unidade, seja área comum), sem mexer na vítima, para limitar a visão e evitar curiosos, facilitando o acesso ao pessoal de saúde
- Se for área comum, com a liberação do local pelo órgão oficial, imediatamente organizar, limpar, consertar a área.
“Orientamos a equipe a manter a calma sempre, sob qualquer hipótese, e na medida do possível, fazer o acompanhamento e atendimento aos familiares”, explica Taula Armentano.
Se a tentativa de suicídio tiver sido manejada corretamente, o presidente da ABP, Antônio Geraldo da Silva, ressalta que familiares e amigos precisam buscar atendimento psiquiátrico para seu ente querido.
“Procure o atendimento pelo SUS ou de forma privada, mas não deixe de levar a pessoa para a avaliação psiquiátrica o mais breve possível – tratamento e acompanhamento corretos salvam vidas e somente o médico psiquiatra vai poder avaliar qual o tipo de tratamento que se adequa à situação de cada paciente”, orienta o médico psiquiatra.
FATO CONSUMADO
- Comunicar os moradores
- Enviar uma carta de condolência aos familiares, com o máximo respeito e atenção
- Enviar coroa de flores em nome do condomínio em demonstração ao pesar
- Orientar a todos para que evitem comentar o assunto e tenham máxima discrição
- Conscientização para evitar novos casos
- Marcelo Mahtuk conta que, dependendo da comunidade, promove encontros com as famílias para falar do assunto com um profissional preparado (psicólogo ou médico). “Tem muito a ver com o momento e com as pessoas. Alinho tudo com o síndico e o conselho. Até culto ecumênico já organizei a pedido da família.”
Apoio à família enlutada
Quando há um suicídio ou tentativa de suicídio, Antônio Geraldo explica que é preciso criar estratégias com foco no suporte aos familiares. “Cada óbito por suicídio impacta diretamente toda a rede social daquele que se foi, familiares e amigos principalmente.”
Segundo ele, a posvenção, ou seja, o cuidado com o enlutado por suicídio, implica em trazer alívio dos efeitos relacionados com o sofrimento e a perda, prevenir o aparecimento de reações adversas e complicações do luto, minimizar o risco de comportamento suicida nos enlutados por suicídio.
“A família deve ser acompanhada, para ajudar no processo de luto por suicídio. Algumas das ações que podem ser benéficas são, por exemplo as abordagens dos grupos de apoio ao luto, com condução profissional adequada”, recomenda o médico psiquiatra.
Consulte ferramentas e grupos de apoio no site do CVV.
https://www.cvv.org.br/
Fontes consultadas: Antônio Geraldo da Silva (ABP), Fúlvio Stagi (síndico profissional), Marcelo Mahtuk (Manager), Taula Armentano (síndica profissional), CVV, IBGE, Ministério da Saúde.
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