O dia em que virei síndico
19/06/2017Gestão do seu condomínio como uma empresa
09/07/2017Há duas coisas que parece melhor não fazer sem dinheiro. Na verdade são muitas. Mas tem duas em especial: casar (vocês dois sem dinheiro) e aceitar ser síndico (vocês todos sem dinheiro). Já aí se nota a diferença: o casal só pode reclamar de si mesmo, dava para não casar agora, dava para não fazer festa, dava para ser diferente. O condomínio não: poucas despesas são elimináveis, o prédio já está todo habitado, todos precisam contribuir, porém todos reclamam do síndico.
Esta última hipótese foi o que nos aconteceu aqui. Assumi a sindicatura (palavra chique, fui olhar, tá no dicionário) de um prédio antigo do bairro Paraíso. Arquiteto famoso. Ponto nobre. Edifício bom, mas… inadimplência marcante, estágio avançado de sucateamento das instalações comuns, sem nem AVCB. Na primeira assembleia, a administradora pontua: precisa de dinheiro. Na mesma assembleia todos gritam: precisamos baixar o valor do condomínio, o prédio não oferece nenhuma comodidade nas áreas comuns. Fazer mais com menos ainda. Impasse total.
Como a outra solução é sair correndo arrependido da tal sindicatura, duas coisas foram essenciais: conversa e criatividade. A conversa foi principalmente para transformar as demandas em aceitação da realidade: vejam isso, vejam aquilo, há riscos e tal. Com o tempo as pessoas aceitam que o remédio é amargo. No mínimo, manter o valor da cota condominial, reajustado. (Não sei por que o Ministério da Fazenda não me chama.) E aí atacar o básico: regularidade em relação às normas, itens de segurança, vazamentos etc.
A criatividade é essencial para transformar além do básico. Precisávamos de portões novos. De um jardim que pelo menos não desvalorizasse o prédio (não tinha nenhum). Pintura. Iluminação decente. Cotamos fornecedores para os portões: depois de dois “nãos”, fechamos com um que aceitou uma parcela de entrada e o resto parcelado em 9 vezes. Conta feita nos centavos. Parceiro bom é isso. O portão novo está lá. Para isso, e mais alguns vários reparos, zeramos o fundo de obras (precisa um pouco de risco, certo?).
Para o paisagismo o furo era mais embaixo. Bem negociado com a assembleia (que aprovou tudo – isso é essencial), deslocamos uma parte do fundo de reserva (mantendo um saldo de segurança), cotamos a paisagista com qualidade e sem “grife”, tudo bem parcelado de novo. O fundo de reserva vai sendo recomposto com o de obras (virou um “adiantamento” de um fundo para o outro) e o jardim está lá. Todos gostaram. Aos poucos vai se criando a cultura de manutenção do prédio. O valor do condomínio nem é tããão caro, mesmo sendo…
Enfim, das duas coisas que parece melhor não fazer sem dinheiro, dessa posso falar: dá pra fazer.
Gianitalo Germani, advogado, é síndico no condomínio onde reside.