Desafios do Sindico pós-pandemia
24/09/2021O porteiro pode autorizar a entrada da polícia no meu apartamento?
05/10/2021Especialistas elencam as principais etapas para colocar a gestão de um condomínio nos trilhos, com um planejamento que prioriza segurança e valorização
Condomínio passando por momentos de crise. Síndico recém-eleito assumindo a gestão de um condomínio meio largado e ‘bagunçado’. Estas são situações que tiram o sono e deixam qualquer síndico de cabelo em pé, sem saber por onde começar.
Consultamos especialistas no tema e organizamos um roteiro com 9 passos que incluem as principais etapas para reorganizar um condomínio que está “de pernas pro ar”, com um planejamento estratégico que visa a segurança, valorização patrimonial e harmonia dos moradores.
-
Fotografia atual do condomínio: vistoria completa
Quando assume a gestão de um condomínio como síndico profissional, Nilton Savieto começa fazendo uma espécie de revisão e vistoria geral, da parte estrutural aos documentos. É como se tirasse uma “fotografia” do condomínio para ter o registro do “antes” para poder comparar, no futuro, com o “depois”.
“Num primeiro momento do início de uma gestão, temos que ‘apagar o fogo’. Faço uma vistoria visual no condomínio. Vejo de ponta a ponta – do barrilete ao subsolo – a parte operacional e estrutural: como está, o que está faltando e o que é crítico”, revela.
Se suspeita que há problema estrutural, encontra alguma rachadura grande, elétrica em estado crítico, falta de extintores, por exemplo, ele já sabe que é isso que precisa ser priorizado nesse momento. “E se essa área não está bem cuidada, muito provavelmente a parte de documentação também não deve estar”, alerta.
-
Checagem da documentação, funcionários, atendimento a normas e leis
Dando sequência à fase de conhecimento, como o diretor da administradora GK, Gabriel Karpat, chama a etapa inicial da gestão de um condomínio, o síndico também deve conhecer e mapear:
- convenção do condomínio;
- regulamento interno;
- patrimônio;
- previsão orçamentária;
- arrecadação;
- quadro de funcionários;
- documentação e obrigações:
- contratos;
- documentos fiscais e contábeis;
- documentos trabalhistas;
- certificações e serviços obrigatórios;
- atendimento a normas e leis etc.
- Saiba como fazer uma previsão orçamentária inteligente no seu condomínio
REGRAS INTERNAS E LEIS
“Convenção e regimento interno são particulares de cada condomínio e o síndico precisa conhecer e saber se estão sendo cumpridos. Quanto às leis, nem todo síndico é advogado, mas é preciso conhecer as leis e normas que se aplicam aos condomínios e fazer valer”, afirma Karpat.
Será que a Norma de Reforma (ABNT NBR 16.280) está sendo seguida? Se ainda não, passará a ser a partir da próxima reforma. Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e Lei do Stalking são leis novas com reflexos nos condomínios: quais os cuidados, como orientar, o que pode e não pode, estão sendo feitas as adequações?
FUNCIONÁRIOS
É importante que o síndico converse com os funcionários ou terceirizada e se inteire de tudo relacionado a eles:
- mapear serviços e funcionários responsáveis;
- o número de colaboradores ou prestadores é suficiente? falta ou sobra gente?
- escala está correta, independe de ser próprio ou terceirizado?
- folgas são cumpridas?
- há horas extras excessivas?
- o padrão de serviço está a contento dos condôminos (entender o seu público)?
-
Alinhamento com conselho, priorização e percepção dos condôminos
Concluída a fase de conhecimento e com o mapeamento do condomínio em mãos, geralmente nos dez primeiros dias da gestão, o síndico profissional Nilton Savieto agenda uma reunião com o conselho consultivo e apresenta essa “fotografia”.
“Faço uma ‘provocação’ ao conselho e ouço o que eles têm a dizer. Já apresento algumas prioridades. Se eles tiverem outras, encaixamos. Se necessário, faço uma reestruturação, como troca de administradora, funcionários, modus operandi do zelador”, diz Savieto.
Ele é bem firme com o conselho em relação aos itens mais críticos priorizados, como problema estrutural grave, funcionário que precisa de treinamento, problemas financeiros, exemplifica.
É nesta etapa que o síndico profissional reserva um ou dois dias na semana para conversar com os condôminos, ouvi-los, elencar as principais reclamações e dores, entender a percepção e as expectativas com a gestão e incluir esses insights no planejamento estratégico.
-
Alinhamento com administradora do condomínio
Um passo importante na organização da gestão de um condomínio é o alinhamento entre síndico e administradora do condomínio. Nilton Savieto tem um checklist e apresenta à parceira para garantir a boa fluidez do trabalho. Alguns itens que não podem faltar:
- tempo de resposta para chamados;
- acompanhamento mensal das obrigações legais e aviso com um mês de antecedência das que estão vencendo e as providências tomadas/em andamento:
- Normas Regulamentadoras (NRs);
- atestados;
- certificações;
- seguro predial: apresentar propostas de renovação 30 dias antes do vencimento;
- inadimplência: a métrica dele é “inadimplência zero” e a régua de acompanhamento e cobrança das cotas em aberto é:
- 10 dias após o vencimento;
- 20 dias após o vencimento acompanhada de um telefonema para entender melhor a situação
- no dia 5 do mês seguinte ele mesmo telefona e informa que vai protestar.
- revisão anual daquela vistoria completa feita no início da gestão;
- relatório mensal com justificativa de itens que ultrapassaram a previsão orçamentária e como resolver:
- itens pontuais. Ex: funcionário em férias, folga trabalhada etc;
- itens recorrentes. Ex: horas extras constantes.
- pasta de prestação de contas: entrega até o dia 15 do mês seguinte.
“A administradora não é deliberativa, mas executiva. Ela também deve fornecer dados para o síndico analisar, interpretar e elaborar um plano conjunto para ser deliberado por pessoas (conselho, condôminos)”, lembra Gabriel Karpat, da administradora GK.
-
Planejamento estratégico da gestão de um condomínio
Se a falta de planejamento é a maior causa do fracasso das empresas, nos condomínios não é diferente.
Gabriel Karpat é defensor da aplicação do conceito de Plano Diretor nos condomínios, tanto que é o professor do curso Como Criar e Aplicar um Plano Diretor, do SíndicoNet. “Há 15 anos achavam que era algo teórico, mas hoje já é uma realidade e vem sendo difundido na gestão condominial”, comemora.
Segundo ele, gestão não é copiar um modelo, e, sim, trazer soluções específicas para cada condomínio. Há cinco perguntas que auxiliam na elaboração de um planejamento estratégico do condomínio:
- O que fazer?
- Quem vai fazer?
- Como fazer?
- Quanto vai custar?
- Quanto tempo leva?
“É preciso mapear, depois classificar e priorizar em urgente, necessário e desejável”, ensina o diretor da administradora GK.
E é assim que Nilton Savieto desenvolve o seu planejamento estratégico, que, a depender da situação do condomínio, pode levar até dois meses.
A depender do nível de urgência – problemas estruturais, contra-fogo e de segurança – e se não há caixa, Nilton Savieto usa o Fundo de Reserva, com a devida cautela, e depois faz a reposição. Lembrando que, muitas vezes, basta efetivamente cobrar os inadimplentes para ter dinheiro na conta, sem precisar de arrecadação extra.
-
Finanças, inadimplência, contratos e auditoria
Para colocar em ordem a parte financeira do condomínio, segundo Gabriel Karpat, é preciso entender a situação atual, com base no mapeamento inicial/fase de conhecimento, o que estava errado e, em caso do síndico que assume um condomínio bagunçado, saber quais os resquícios da gestão anterior.
O condomínio tem custo, gasto e despesa. Para mexer nisso, é preciso considerar diversos aspectos e demandas, como:
- expectativas dos condôminos: se querem mais conforto e segurança, custa mais;
- depreciação dos bens/ativos: precisa ser bem cuidado e priorizar manutenção preventiva;
- valorização patrimonial: investimento em melhorias e benfeitorias etc
“O planejamento financeiro é de médio e longo prazo, pensado em agregar valor”, afirma Gabriel Karpat.
O diretor da administradora GK fala em três tipos de previsão orçamentária que são praticadas no mercado. A terceira, é a que ele recomenda para condomínios que estão desorganizados:
- Linear: não detalha conta por conta, mas aumenta tudo com base em um índice inflacionário (IPCA);
- Matricial: detalha item por item, conta por conta, analisa e faz a média de gastos e estabelece novo valor;
- Disruptiva: orçamento base zero (OBZ), indicada para condomínios ‘bagunçados’ – cortar o passado, entender onde e por que chegamos nessa situação e trabalhar com valores da atual conjuntura, analisando cada conta, se precisa agregar ou cortar.
INADIMPLÊNCIA
Gabriel Karpat explica que há dois tipos de inadimplência:
- inadimplente contumaz: aquele recorrente, que vai acumulando, acordos não são cumpridos e é preciso entrar na justiça;
- inadimplente volátil: o condômino que atrasa dois, três meses, mas faz acordo e resolve.
Segundo ele, é preciso analisar o comportamento do condomínio por um ano para identificar os tipos de inadimplência que tem e, além disso:
- saber o que está sendo feito a respeito;
- propor acordos extrajudiciais com juros e correção para facilitar o inadimplente a pagar a cota mensal e começar a receber os atrasados;
- checar se a previsão orçamentária contempla a inadimplência existente e ajustar até que a mesma seja zerada (ou minimizada);
- estabelecer uma régua de cobrança e, em cima disso, mandar avisos de cobrança usando a tecnologia e automação (envio de segunda via por e-mail, whatsapp etc) ou serviços de cobrança extrajudicial.
“Às vezes não está sendo feita a cobrança corretamente. Peço para a administradora passar um relatório da inadimplência, tento fazer negociação extrajudicial para já começar a receber e depois implanta régua de cobrança e os casos que não surtem efeito com acordos amigáveis ou cobrança extrajudicial, entro com o jurídico”, afirma Nilton Savieto.
CONTRATOS | AUDITORIA
É uma recomendação padrão de Nilton Savieto contratar auditoria independente mensal (fiscal, trabalhista) para checar toda a documentação do condomínio.
“A auditoria recebe a pasta de prestação de contas por sistema, confere documentos fiscais, contábeis, de pessoal, atendimento à legislação, obrigações, Serasa, cartórios, tira CNDs etc É feito um relatório do mês, apontando o que foi resolvido e o que está pendente”, explica o síndico profissional.
Quando o condomínio tem um conselho consultivo ou fiscal com contador, advogado, engenheiro e os integrantes são ativos, eles mesmos costumam olhar tudo isso. “Mas quando o conselho é ausente, cobro mais da administradora e a auditoria entra em cena.”
Savieto prefere a auditoria mensal porque o valor é mais acessível já vai resolvendo de imediato as não conformidades. Ao contrário do que acontece na auditoria anual.
-
Manutenções
Além do que já foi dito sobre priorização de manutenções críticas, que ameaçam a vida e a segurança de moradores e funcionários, além da própria estrutura, é importante que o síndico inclua no seu Planejamento Estratégico a implementação de um Programa de Manutenção Preventiva no condomínio.
“É preciso compreender o conceito de depreciação. Equipamentos, estruturas, bens têm vida útil programada e precisam de manutenção preventiva para atingi-la. Tem que pensar em longo prazo”, destaca Gabriel Karpat.
Nilton Savieto comenta que há questões relacionadas à manutenção predial que os próprios funcionários (zelador ou manutencista) podem fazer. E para que isso seja efetivo, nada como um bom treinamento e um roteiro de atividades.
“Geralmente os zeladores não têm muito critério e nem a cultura de registrar e criar histórico, fica tudo na cabeça deles. Documento tudo em planilhas ou sistemas (com inventário de todos os ativos) e o funcionário vai anotando o status e o que precisa de intervenção nas vistorias”, explica.
Um momento em que a realidade vem à tona, segundo a experiência de Savieto, é quando o funcionário responsável pela manutenção tira férias. “É aí que descubro se o trabalho está sendo feito corretamente. Se tem gambiarra, as coisas pipocam.”
-
Comunicação eficaz com moradores
Comunicação em condomínio deixou de ser coisa de amador, afirma Gabriel Karpat. Ter uma política de comunicação faz parte de medidas de compliance do síndico.
“Se a comunicação está bagunçada e falha, surgem fofocas, desavenças. O primeiro passo é ter um canal oficial de comunicação por meio do qual síndico e corpo diretivo divulguem o que está sendo feito, qual é o plano, por que está acontecendo determinada coisa”, explica o diretor da GK.
Nilton Savieto ressalta que os condôminos devem estar por dentro de tudo e para que isso aconteça, ele não economiza. Usa como meios de comunicação:
- e-mail;
- site/app da administradora;
- whatsapp;
- informes impressos;o
- telas/quadros de avisos.
“É melhor a redundância, de forma que todos sejam contemplados.”
Quanto ao uso do whatsapp, ele usa lista de transmissão com mensagens curtas e objetivas, uma chamada que direciona o condômino para ler a mensagem completa no e-mail, no site ou baixando o arquivo.
Sobre os polêmicos grupos, Gabriel Karpat não é favorável, nem às redes sociais. “São meios por onde todos se manifestam de forma desordenada, dando margem até de avançar na esfera criminal. Se tiver grupo, deve ser silenciado, onde só o corpo diretivo publica.”
Savieto arrisca grupos abertos quando o condomínio é mais maduro e abre para o debate assuntos específicos.
“Usando todos esses recursos, praticamente todas as pessoas ficam bem informadas sobre os acontecimentos. Só não fica informado quem não quer. A responsabilidade em se manter informado é de cada um, que deve autorizar recebimento de e-mails, inclusão no whatsapp”, comenta o síndico profissional.
-
Estabelecimento de métricas/KPI’s
“Se você não pode medir, não pode gerenciar”. A velha máxima sobre a necessidade de se ter métricas, KPIs (indicadores-chave de performance) para mensurar resultados também se aplica aos condomínios.
“A visão moderna da gestão de um condomínio é comparar com a de uma empresa: com planejamento, estratégia, metas e formas de mensurar os resultados”, afirma Gabriel Karpat.
Abaixo, alguns exemplos de indicadores citados pelos especialistas entrevistados:
- manutenção de equipamentos: nível de recorrência de defeitos e tempo de resposta de atendimento à abertura de chamado. Exemplo: para elevadores, Savieto estipula que dentro do mês, equipamento pode ficar parado até 30 minutos;
- funcionários: avaliação de desempenho com diversos itens. Para os funcionários que cumprem as metas, o condomínio dá como incentivo uma bonificação no final do ano. Os feedbacks são trimestrais para que eles saibam onde precisam melhorar). Alguns itens:
- nível de atendimento ao condômino;
- faltas/atrasos;
- apresentação;
- relacionamento entre colegas.
- abertura de chamados de moradores: uso de aplicativo para fazer a gestão dos chamados:
- o que estão pedindo;
- tempo de atendimento;
- prazo de resposta;
- quem faz o atendimento (zelador? gerente predial?);
- qual é a maior reclamação. Ex: barulho. Ação: mandar um comunicado geral como primeira medida.
- inadimplência:
- nível de retorno das cartas de cobrança;
- nível de retorno de telefonema;
- nível de retorno de cobrança extrajudicial ativa;
- nível de retorno via ação judicial.
Fontes consultadas: Gabriel Karpat (administradora GK) e Nilton Savieto (síndico profissional).
Entre em contato:
WhatsApp – (11) 99433‑5829
E-MAIL: contato@quantumcomodidade.com.br